domingo, 31 de maio de 2009

O Totalitarismo


"Tu, camarada, tu, que eu desconhecia por detrás das turbulências, tu, amordaçado, amedrontado, asfixiado, vem, fala conosco".

Estudantes no Maio de 68.

O Totalitarismo


O fascismo na Itália e o nazismo na Alemanha são movimentos surgidos após a Primeira Guerra Mundial e têm características semelhantes, sobretudo enquanto manifestação do ideal totalitário. Vamos descrevê-los ao mesmo tempo, a partir de suas semelhanças, indicando as diferenças quando existirem.


Do ponto de vista econômico e moral, o saldo da Primeira Guerra Mundial (1914-1918) foi desastroso para a Alemanha. O otimismo do período pré-guerra é substituído pelo pessimismo decorrente da crise econômica, do desemprego, da proletarização da classe média, tudo isso aliado à humilhação sofrida com a derrota e a assinatura de um aviltante tratado de paz. O orgulho alemão recrudesce em manifestações de francofobia e de exacerbação do nacionalismo. A Itália, por sua vez, mesmo alinhada com as potências vencedoras, não está satisfeita com as vantagens prometidas e não concretizadas; a inflação e o desemprego geram um clima de agitação social.


A inflação e a alta do custo de vida são reflexos da crise econômica que se torna mais aguda quando, em 1929, ocorre a “quebra” da Bolsa de Nova Iorque, com repercussões mundiais. A Grande Depressão ocasiona desemprego em massa e falências, o que recrudesce os antagonismos e, consequentemente, as críticas ao modelo econômico do liberalismo, incapaz de evitar crises como essas.


Os Estados Unidos e a Inglaterra reagem à depressão criando mecanismos protecionistas que caracterizam o Estado de bem-estar social. Mas na Itália e na Alemanha a crise favorece a atuação de partidos extremistas que promovem a ascensão do fascismo e do nazismo.


O posicionamento desses partidos contra o liberalismo aparece na crítica ao tipo de liberdade estimulada pelo individualismo, que gera conflitos enfraquecedores do Estado. Diante da inoperância da democracia liberal para resolver a crise, surgem alternativas que visam, sobretudo, ao fortalecimento do Estado.


As primeiras adesões ao nazismo e ao fascismo sugerem uma tendência anticapitalista que aparente, no início, ter um caráter revolucionário, logo desmentido. Na verdade, esses movimentos são formas de reação, são forças conservadoras que se manifestam na aliança com grupos cujos privilégios são mantidos por meio de tarifas protecionistas. Em troca, o Estado obtém o financiamento que possibilita a “manutenção da ordem pública”, incluindo a ação anticomunista destinada a extirpar o “perigo vermelho”, foco de agitação sindical.


A aliança com setores mais conservadores, ligados à grande indústria monopolista, aos bancos e às fianças em geral, é que pode explicar o fato de esses partidos terem chegado ao poder por via legal. É interessante notar que apesar de o verdadeiro poder vir da oligarquia e de nesses movimentos se encontrarem adeptos de todas as camadas sociais, inclusive proletários, é da classe média que saem os elementos que formarão os principais quadros. A fúria da adesão pequeno-burguesa talvez se explique pela constante ameaça de proletarização em momentos de crise.


O fascismo predominou na Itália com Mussolini, desde 1922, e o nazismo na Alemanha com Hitler, desde 1933. Finda a Segunda Guerra, em 1945, Mussolini foi morto e Hitler suicidou-se.


Nacionalismo


Ambos os movimentos se acham orientados pelo nacionalismo exacerbado, nascido do desejo de tornar a nação forte, grande, auto-suficiente e com exército poderoso.


Segundo Mussolini, a nação “é um organismo dotado de existência, de um fim, de meios de ação superiores em

poderio e em duração aos indivíduos isolados e agrupados que a compõem... Unidade ética, política e econômica, realiza-se integralmente no Estado fascista”.


O nacionalismo fascista é conservador e agressivo, justificando inclusive o imperialismo, cuja conseqüência mais grave foi a malograda tentativa da conquista da Etiópia (1935-1936).

Essa concepção nacionalista tem um caráter idealista e critica a interpretação materialista da história, típica do marxismo. A luta de classes é substituída pela solidariedade nacional: só a nação unida será forte o suficiente para substituir o caos.


Mussolini, na obra Opera omnia não oculta valer-se do mito da pátria:


“Criamos o nosso mito. O mito é uma fé, é uma paixão. Não é preciso que seja uma realidade. (...) O nosso mito é a nação, o nosso mito é a grandeza da nação!”


O nacionalismo alemão adquire nuances diferentes, como o pangermanismo, que justifica a pregação do “espaço vital”, segundo a qual era preciso integrar à Alemanha regiões como a Áustria, Dantizig, Polônia e Ucrânia, na tentativa de formar a grande Alemanha.


Além disso, o nacionalismo alemão possui conotação fortemente racista: o nazismo proclama a primazia do Volk, termo que significa ao mesmo tempo povo e nação, mas uma nação concebida como realidade orgânica, como comunidade de seres da mesma raça (mesmo solo, mesmo sangue). “Tu não és nada, o teu povo é tudo”, afirmava Hitler.


Auxiliado por teorias pseudocientíficas, Hitler estabelece critérios para valorizar a “raça ariana”, a elite nórdica, e exclui do poder as “raças passivas”, de “menor valor”, propondo inclusive a eliminação da raça judaica, “antítese da raça ariana”. Todos sabemos a conseqüência dessa Ideologia: a perseguição aos judeus, culminando com os campos de concentração e o genocídio. Ainda na perspectiva racista, o nazismo difunde técnicas de eugenia para o “aprimoramento da raça superior”, proíbe a mestiçagem e propõem esterilizações orientadas pelo princípio de que só os indivíduos sãos devem procriar.


Totalitarismo


A crítica ao liberalismo e à concepção individualista de homem, a hostilidade aos princípios da democracia, a valorização das elites e do papel do mais forte levam à exaltação do estado. “Tudo no Estado, nada fora do Estado, nada contra o Estado”, diz Mussolini. É a idéia hegeliana de Estado como suprema e mais perfeita realidade, a própria encarnação do Espírito objetivo, representativa da totalidade dos interesses dos indivíduos. É bem verdade que esse estatismo é mais violento em Mussolini, que considera o Estado um fim em si. Para Hitler é apenas um instrumento, pois todo prestígio deve ser reservado ao Volk.


Em todos os setores, cuida-se de difundir a ideologia oficial.


Não há mais pluralismo partidário, instituição básica da democracia liberal. A primeira das molas que instauram o poder é o partido, que deve ser único, rigidamente organizado e burocratizado. É o partido que promove a identificação entre o poder e o povo, processando a homogeneização do campo social.


O partido forma organismos de massa: sindicatos de todos os tipos, agrupamentos de auxílio mútuo, associações culturais e de trabalhadores de diversas categorias, organizações de jovens, crianças e mulheres, círculo de escritores, artistas e cientistas. Em cada organismo o partido refaz a imagem de identidade social e comum e elimina as possibilidades de divergências e oposição, estimula a arregimentação dos indivíduos para o partido, exalta a disciplina e mistifica a figura do chefe. Aliás, o lema fascista é “Crer, obedecer, combater”.


A valorização da hierarquia, impedindo que esses organismos expressem o pluralismo de opiniões, reforça a centralização administrativa, fortalecedora do estado e do poder do líder.


Paralelamente, dá-se a concentração de todos os meios militares e a formação da polícia política (como a Gestapo, na Alemanha), instituindo enorme aparelho repressivo diretamente controlado pelo ditador. Não há independência dos poderes legislativo e judiciário, subordinados ao executivo, e a direção de toda a economia se encontra também centralizada.


Outra característica importante do totalitarismo é a concentração de todos os meios de propaganda, a fim de veicular a ideologia oficial dirigida ao “homem massa”, forjando convicções inabaláveis, o que garante forte base de apoio popular. Geralmente é usado o apelo aos sentimentos, à imaginação, e não ao intelecto. Inúmeros recursos materiais e técnicos empregados na manipulação da opinião pública louvam as criações dos líderes e tecem deles um perfil psicológico característico da genialidade. Fotografias ampliadas e falas exaltadas completam o culto à personalidade, São feitos desfiles espetaculares, as pessoas cantam músicas especialmente produzidas e recitam slogans. Na verdade, tudo muito próximo a uma mitologia...


Ao lado dessa exaltação há o controle das informações pela censura, tanto de notícias quanto da produção artística e cultural.


A educação é orientada no sentido da valorização das disciplinas de moral e cívica, visando à formação do caráter, da força de vontade, da disciplina, do amor à pátria, importantes para o cidadão. Dedica-se especial atenção à educação física, tendo em vista o ideal de corpos perfeitamente sadios, e há maldisfarçado desprezo pelas atividades intelectuais.


Embora com algumas diferenças, as doutrinas totalitárias influenciaram movimentos como o de Salazar, em Portugal, o de Franco, na Espanha, e a Ação Integralista Brasileira, fundada por Plínio Salgado.


Stalinismo: totalitarismo de esquerda


O termo totalitarismo se aplica inicialmente aos chamados regimes de direita, como o fascismo e o nazismo. Mas, segundo o historiador da filosofia Châtelet, a partir de 1929, o semanário Time passa a usar o termo para se referir também ao regime soviético, caracterizado pelo estado unitário, de partido único.


A Revolução Russa de 1917 derruba o czarismo e implanta novo regime, inspirado no marxismo-leninismo. Segundo Marx, como vimos, na fase transitória entre o capitalismo e a nova ordem deve se instalar a ditadura do proletariado, na qual o Estado, embora concebido essencialmente como domínio e coerção, deve desaparecer com o tempo.


Apear da coerção do Estado, a ditadura do proletariado é considerada uma democracia pelos marxistas, pois todos teriam acesso ao poder, já que os sovietes são compostos por deputados escolhidos entre os diversos segmentos sociais, como operários, soldados e camponeses. Além disso, a propriedade coletiva dos meios de produção reverteria, para todos, os benefícios da produção, antes usufruídos por alguns poucos privilegiados.


A ideia do gradual desaparecimento do Estado, no entanto, não se concretiza; ao contrário, é inevitável o seu fortalecimento logo após a revolução, a fim de evitar a contra-revolução. Tal situação já se verifica durante o governo de Lênin, e recrudesce após sua morte, quando Stalin sobe ao poder em 1924. O partido único torna-se onipotente, sendo proibidas as oposições em seu interior. A liberdade de imprensa e de expressão é reduzida, e os políticos dissidentes são perseguidos e dizimados. A Tcheka, polícia política, cuida de reprimir os heterodoxos. Proliferam os campos de concentração de trabalhos forçados e os hospitais psiquiátricos, onde são internados os dissidentes, após intensas e brutais campanhas de expurgo.


Instaura-se o terror, justificado pela necessidade de fortalecimento da ideologia oficial ameaçada. O poder é cada vez mais centralizado e cresce o culto à personalidade de Stalin.

Com Stalin a teoria degenera em dogmatismo e se impõem independentemente da experiência vivida, negando qualquer forma de pensamento divergente. À petrificação da doutrina acrescenta-se a formulação de máximas de ação. Tudo isso está longe da concepção marxista baseada na dialética teoria e prática.


A ação totalitária ainda é possível porque a administração do terror é científica, sustentada pela tecnoburocracia. Essa organização, importada do capitalismo ocidental, baseia-se no regime de divisão racional do trabalho e se estrutura em uma rede de microorganizações, o que permite o controle da máquina do Estado.


Para melhor exercer o poder, Stalin interfere em todos os domínios da cultura:


Jdanov, membro do partido, dá os cânones da produção artística e critica os “desvios burgueses” das letras e das artes; o biólogo Lysenko rejeita a genética mendeliana, acusando-a de burguesa e conservadora porque, para Mendel, os caracteres veiculados conservam-se de geração em geração.


Lysenko retoma as ultrapassadas teorias lamarckianas, segundo as quais os caracteres adquiridos poderiam se tornar hereditários.


Após a morte de Stalin e a ascensão de Krushev (1956) inicia-se o processo de desestalinização, com a denúncia dos crimes e violências, a destruição do culto à personalidade e a crítica ao dogmatismo.

5 comentários:

  1. não foi esclarcedor foi um bosta
    mas se voce kiser abre a minha vagina e enfia o pau dentro!!!!
    DenGOSA

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  2. uma merda vai toma no cu filho da puta vai te fude não fala nada sobre o totalitarismo na espanha e portugual

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  3. não tratou do comunismo e mesmo do socialismo como regimes totalitários. convenientemente, tergiversou com o stalinismo...fraco

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  4. Ótimo texto! Muito feliz que encontrei um texto tão bom em uma linguagem acessível. Mas, eu tenho duas perguntas: qual a diferença do autoritarismo e do totalitarismo? E é correto dizer que toda ditadura é um sistema totalitário? Desde já agradeço!

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