sexta-feira, 22 de maio de 2009

O pensamento pré-socrático

Os primeiros filósofos

A noite segue o dia. As estações do ano sucedem-se uma à outra. As plantas e os animais nascem, crescem e morrem. Diante desse espetáculo cotidiano da natureza, o homem manifesta sentimentos variados - medo, resignação, incompreensão, espanto e perplexidade. E são prescisamente esses sentimentos que acabam por levá-lo à filosofia. O espanto inicial traduz-se em perguntas intrigantes: que é essa naturezam que apresenta tantas variações? Ela possui uma ordem ou é um caos sem nexo? Em suma: o que é physis?

A palavra grega physis pode ser traduzida por natureza. Mas seu significado é mais amplo. Refere-se também à realidade, não aquela pronta e acabada, mas a que se encontra em movimento e transformação, a que nasce e se desenvolve. Nesse sentido, a palavra significa gênese, origem, manifestação. Saber o que é a physis, assim, levanta a questão da origem de todas as coisas que constituem a realidade, que se manifesta no movimento. Procura saber se há um princípio único (arkhé, que também quer dizer comando) que dirija e ordene todas as coisas do mundo, em seus diversos e contraditórios aspectos. É desses temas que vão se ocupar os primeiros filósofos.

Pouco se sabe a respeito dos pioneiros do pensamento ocidental. De seus textos restaram apenas fragmentos. Suas ideias chegaram a nós por intermédio das versões apresentadas pelos pensadores que vieram depois, e que os apresentaram como "primeiros filósofos". Não fosse isso, eles talvez ficassem conhecidos como escritores com pretensões vagamente científicas, com suas investigações peculiares sobre a natureza.

Esses pioneiros surgiram na Jônia, colônia fundada na costa asiática da Grécia por antigos micênios, que ali se refugiaram das invasões dóricas. Enquanto a maior parte dos gregos mergulhava na "idade das trevas", os jônios desenvolveram intensas atividades artesanais e comerciais, que favoreciam o surgimento de novos valores sociais, baseados menos na tradição, mais na iniciativa dos indivíduos. A vida cultural floresceu, e disso a obra de Homero é testemunha. A astronomia e a matemática desenvolveram-se, sob a influência de contatos com os povos do oriente. Em meio a esse fervilhar, a cidade de Mileto foi se impondo como principal centro da Jônia.

Tales, Anaximandro e Anaxímenes - que receberam o nome de pré-socráticos por terem surgido antes de Sócrates, o grande marco da filosofia ocidental -, os primeiros filósofos, formam a chamada Escola de Mileto.

Tales: tudo começa na água

Tales, nascido em mileto, é considerado, pela tradição clássica, o primeiro filósofo. Viveu provavelmente entre o final do século VII e meados do século VI a.C. Matemático e astrônomo, previu o eclipse do Sol de 585 a.C. Diz-se que, distraído, teria caído num poço quando contemplava os astros. Comenta-se, também, porém, que foi um hábil negociante e que prosperou muito por causa da astúcia.

Segundo tales, a água, ao se resfriar, torna-se densa e dá origem à terra; ao se aquecer transforma-se em vapor e ar, que retomam como chuva quando novamente esfriados. Desse ciclo (vapor, chuva, rio, mar, terra) nascem as diversas formas de vida, vegetal e animal.

Não há dúvida de que esse pensamento logo esbarra em dificuldades. Que são, por exemplo, o calor e o frio de que depende o movimento da água, se é esta a origem única de todas as coisas? A busca da arkhé,um princípio único, conflita com outras forças que, por sua vez, precisam ser enquadradas em um princípio diferente. Essa dificuldade não é exclusiva de Tales; é da própria filosofia, que se desenvolve tentando resolvê-la. Se Tales aparece como o iniciador da filosofia, é porque seu esforço em buscar o princípio único da explicação do mundo não só constitui o ideal mesmo da filosofia como também forneceu-lheo impulso para desenvolver-se.

Anaximandro: indeterminado e eterno

Contemporâneo de Tales, Anaximandro procura um caminho diferente. Para ele, o princípio da physis é o ápeiron, que pode ser traduzido como indeterminado ou ilimitado. Eterno, o ápeiron está em constante movimento, e disso resulta uma série de pares opostos - água e fogo, frio e calor - que constitui o mundo. O ápeiron é, desse modo, algo abstrato, que não se fixa diretamente em nenhum elemento palpável da natureza. Com essa concepção Anaximandro prossegue na mesma linha de tales, porém dando um passo a mais na direção da indepêndencia do "princípio" em relação às coisas particulares.

Anaxímenes: o ar comanda a vida

O meio-termo entre Tales e Anaximandro é representado por Anaxímenes, que viveu em meados do século VI a.C. Segundo ele, a arkhé que comanda o mundo é o ar, um elemento não tão abstrato como o ápeiron, nem palpável demais como a água. Tudo provém do ar, através de seus movimentos: o ar é respiração e é vida; o fogo é o ar rarefeito; a água, a terra, a pedra são formas cada vez mais condensadas de ar. Tudo existe, mesmo apresentando qualidades diferentes, reduz-se a variações quantitativas (mais raro, mais denso) desse único elemento.

A intensa vida cultural de Mileto acaba em 494 a.C., quando a cidade é destruída pelos persas. O eixo da cultura helênica, então, desloca-se para a Magna Grécia, no sul da Itália. Ali, na cidade de Crotona, floresceu o pensamento de Pitágoras e de seus seguidores.

Pitágoras: tudo é matemática

Pitágoras, se é que realmente existiu, teria nascido na Jônia, na segunda metade do século VI a.C. Instalando-se em Crotona, fundou uma seita religiosa e mística, que tinha como base o orfismo - um culto popular que pregava a transmigração da alma e a necessidade da purificação do homem para salvá-lo do ciclo de sucessivas reencarnações. Assim, como o orfismo, a seita pitagórica tinha um caráter esotérico, secreto: suas ideias só eram acessíveis aos iniciados, que deviam praticar uma série de obrigações misteriosas.

Sob esse aspecto, as ideias de Pitágoras estão muito aquém do pensamento racional surgido na Jônia. Por outro lado, o pitagorismo representaria um marco decisivo no desenvolvimento do pensamento racional e científico, por ter elevado à condição divina uma das realizações mais racionais do homem: a matemática. Com os pitagóricos, a matemática libertou-se da condição de mera técnica que atendia às necessidades práticas de agrimensura - como entre os egípcios - para constituir-se em uma ciência pura, ainda que revestida de religiosidade.

Segundo os pitagóricos, o homem, para se salvar, deve identificar-se com o divino, eliminando de sua vida todos os conflitos. isso se faz principalmente por via da contemplação teórica, que vislumbra, por trás dos conflitos, a harmonia. A harmonia está presente, por exemplo, na música - um dos elementos-chave da prática ritual do orfismo.

O mundo é número - e, para mostrá-lo, reduzem tudo o que existe a figuras geométricas simples, O ponto é o número um; a linha é o número dois; a superfície é três; e o volume, quatro. O mundo se traduz nesses números e em seus múltiplos, e por isso os pitagóricos consideram sagrado o dez, a soma desses algarismos (1+2+3+4=10).

Se o mundo é o número, cabe então descobrir as "características" de cada um e suas relações. Dentre os vários "tipos" de números destacam-se dois: os pares (2, 4, 6...) e os ímpares (1, 3, 5...). Representados geometricamente, os pares formam sempre um retângulo e representam a alteridade, a diferença, enquanto os ímpares, que formam sempre um quadrado, com lados iguais. constituem a identidade. Dito de outra maneira, os ímpares são o princípio do Mesmo e os pares, do Outro.

Esses dois principios, opostos e complementares, desdobram-se em dez pares: limite e ilimitado; ímpar e par; uno e múltiplo, direita e esquerda; masculino e feminino; imobilidade e movimento; reto e curvo; luz e obscuridade; bem e mal; quadrado e retângulo. A harmonia entre ambos ocorre quando há uma medida justa (métron), exata, de cada um. A inexistência dessa harmonia é a responsável pela desordem do mundo, tanto em relação ao aspecto biológico (masculino e feminino) quanto ao âmbito moral e político (bem e mal).

De todos os pares, os mais importantes são o limite e o ilimitado. Esse último, ápeiron, representa o mundo terreno, com suas mudanças e corrupções infindas. Essa instabilidade somente pode ser detida pelo limite, que lhe oferece ordem e harmonia. Nesse sentido, o limite liga-se ao divino, única garantia da proporção justa. O homem consegue a salvação quando em sintonia com esse limite pacificador - o que se dá pela matemática.

Desenvolvendo constantemente suas investigações, os pitagóricos difundiram suas ideias por toda a Grécia, influenciando o pensamento científico e filosófico posterior, que encontraria na matemática um de seus modelos preferidos de raciocínio.

No século V a.C., a Grécia propriamente dita (ou seja, Atenas) entra em guerra com a Pérsia. O cenário das investigações filosóficas, então, divide-se em dois.

Um deles passa a ser Éfeso, na Grécia asiática, e outro, Eléia, no sul da Itália. São duas extremidades opostas no mundo grego, como que simbolizando as duas direções contrárias que a filosofia irá tomar. Essas direções têm em comum o mesmo ponto de partida, a herança dos primeiros filósofos da Jônia: a pergunta sobre se existe um princípio único que explique o mundo em seus diversos aspectos. Em Éfeso, a resposta de Heráclito é a de que os contrários formam uma unidade; a de Parmênides, em Eléia, de que os contrários jamais podem coexistir.

Heráclito: "tudo é um"

Heráclito (540 - 480 a.C.) transforma em solução o que aos outros era problema. Para ele, o mundo explica-se não apesar das mudanças de seus aspectos, muitas vezes contraditórios, mas exatamente por causa dessas mudanças e contradições. Por isso, em um de seus fragmentos, diz: "O combate é de todas as coisas o pais, de todas o rei". Em outras palavras, todas as coisas opõem-se umas às outras, e dessa tensão resulta a unidade do mundo.

Para Heráclito, a harmonia nasce da própria oposição: "O divergente consigo mesmoconcorda; harmonia de tensões contrárias, como de arco e lira".

A divergência e a contradição não só produzem a unidade do mundo mas também a sua transformação. O mundo é um eterno fluir, como um rio; e é impossível banhar-se duas vezes na mesma água. Fluxo contínuo de mudanças, o mundo é como um fogo eterno, sempre vivo, e "nehum deus, nemhum homem o fez".

Mas só se compreende isso, quando, ao deixar de lado a "falsa sabedoria" ditada pelos sentidos e pelas opiniões, chega-se ao logos, isto é, ao pensamento sensato. É o raciocínio adequado que abre as portas para o entendimento do princípio de todas as coisas. "Não de mim mas do logos tendo ouvido é sábio homologar tudo é um", diz um de seus aforismos.

Parmênides: o ser e as ilusões

Parmênides (540-450 a.C.), ao contrário de Heráclito, procura eliminar tudo o que seja variável e contraditório. Se uma coisa existe, ela é esta coisa e não pode ser outra, muito menos o seu contrário. Uma árvore é uma árvore, o Sol é o Sol, o homem é o homem, o que é é o que é. Em outras palavras, o ser é o ser ou, resumidamente, o ser é. Segue-se logicamente que não-ser não é, não pode existir.

Se só o ser existe, o ser deve sempre existir. Deve ser único, imóvel, imutável, sem variações, eterno. Mas o que seriam então as constantes mudanças, as contradições e os aspectos diferentes que o mundo apresenta? São ilusões, responde Parmênides, meras aparências produzidas por opiniões enganadoras, não pelo conhecimento do verdadeiro ser.

Esse pensamento inaugura a metafísica (por não se contentar com a aparência das coisas e buscar-lhes a essência) e a lógica (o princípio da não-contradição existe no ser, que é, e no não-ser, que não é). Para Parmênides, o mundo dos sentidos, por estar condicionado às variações dos fenômenos observados e das sensações, dá origem a incertezas e a opiniões diversas. Por isso, o conhecimento não pode ser alcançado por esse caminho, e sim pela certeza que a razão produz por meios lógicos e dedutivos.

Os paradoxos de Zenão

O pensamento de Parmênides é levado ao extremo por seu discípulo Zenão (também de Eléia), que formula seus famosos paradoxos. "Paradoxo", na origem, significa "contrário à opinião", e é exatamente contra a opinião comum que Zenão pretende demonstrar que a variedade (ou a pluralidade) das coisas e o movimento são impossíveis.

Se há várias coisas, afirma Zenão, elas devem ser em determinado número, nem mais nem menos; mas entre elas deve haver sempre outras. Então é preciso admitir que exista um número ao mesmo tempo finito e infinito das coisas, o que é absurdo. Esse argumento supõem que não haja o vazio. De fato, segundo Zenão, se existe algo, esse algo está em algum lugar, mas esse lugar deve também estar num lugar e assim sucessivamente. Um lugar sempre contém um outro e, por isso, não pode estar vazio: o vazio não existe.

Tampouco existe o movimento: uma flecha, para atingir seu alvo, ocupa a cada momento da trajetória um espaço igual a si mesma. Ou seja: a cada momento ela está parada. O movimento da flecha seria a soma de momentos em que está imóvel, o que é absurdo. O movimento é assim uma ilusão, do mesmo modo que a pluralidade das coisas o é. Só há um ser, único, imóvel, indivisível e eterno.

O rigor do pensamento de Parmênides e Zenão levou a filosofia a um impasse: se, pelo raciocínio lógico, é perfeitamente admissível a inexistência da pluralidade das coisas e do movimento, por outro lado, pela experiência cotidiana, torna-se difícil descartá-los sumariamente como meras ilusões dos sentidos e das opiniões. Surgem assim tentaivas que buscam conciliar a idéia de um ser único e imóvel com a de pluralidade e de movimento - e isso sem abandonar a precisão da lógica nem violentar o que os sentidos testemunham. Desse esforço participam Empédocles e Anaxágoras de um lado, e, de outro, o atomismo de Leucipo e Demócrito.

Empédocles

Nascido em Agrigento, na magna Grécia, Empédocles (483-430 a.C.), médico e místico, defensor da democracia, faz essa conciliação ao preservar a ideia de que o ser é eterno e indivisível, mas não a de que é único e imóvel. Para ele, o mundo compõem-se de quatro princípios ou raízes: água, ar, fogo e terra. Tudo resulta da combinação, em proporções maiores ou menores, dessas quatro raízes, todas elas imutáveis e endestrutíveis. Mas, para que se combimem, é preciso algo que as faça mover-se, aproximando-as ou separando-as. Para isso, Empédocles é levado a conceber forças opostas: o Amor e o Ódio, o primeiro agindo no sentido de aproximar e misturar as raízes, e o segundo no sentido contrário.

Tanto nas quatro raízes como nas duas forças não há hierarquia. Uma não é mais importante do que outra, nem há entre elas a ideia de anterioridade; todas encontram-se no mesmo plano. Democraticamente. Num momento, o amor une as raízes, formando um todo único. No momento seguinte, o Ódio as separa, produzindo as diversas coisas existentes no mundo, Quando essa separação se completa, o Amor volta a agir. Esse movimento cíclico origina e refaz tudo o que há.

Anaxágoras: um pouco de tudo em tudo

Em vez de quatro raízes de Empédocles, um sem-número de elementos com qualidades distintas - esta é a concepção de Anaxágoras, quem nascido na Jônia, foi o primeiro filósofo a viver em Atenas, onde se instalou em 487 a.C. Para ele, tudo o que existe é composto de todos esses elementos, uns em maior quantidade, outros em proporções tão íntimas que nem sequer são perceptíveis. "Em tudo é incluída oarte de tudo": a pluralidade das coisas explica-se assim por infinitas combinações de todos os elementos.

E o movimento? Segundo Anaxágoras, todas as coisas estavam juntas na origem, formando um todo cujas partes não eram identificáveis, como o caos original da mitologia. Elas, porém, foram se separando pela força do nous (espírito ou inteligência), que, como num turbilhão, pôs em movimento todas as coisas, misturando-as em diversas proporções. O nous é assim a origem do movimento e da pluralidade, Ele, porém, é autônomo, isto é, não se mistura como as coisas, mas a dirige.

Leucipo e Demócrito: o átomo como princípio

Outra é a concepção de Leucipo, nascido talvez em Mileto, em data desconhecida do século V a.C., e de seu discípulo Demócrito (470-370 a.C.), de Abdera. Para eles, o mundo é composto de átomos - palavra grega que significa "não divisível". Assim, o átomo é indivisível, mas também imutável, eterno, sempre idêntico a si memso. E, nesse sentido, equivale ao ser de Parmênides. Mas não é único. Os átomos existem em número infinito. A conseqüência disso é que entre um átomo e outro existe um algo: um vazio, um nada, um não-ser, repudiado por parmênides e Zenão. É nesse vazio que os átomos se movem. Em seu entrechoque produzem diversas combinações, e daí resulta a pluralidade das coisas: o mundo em movimento.

O nascimento, assim, não passa de um agregado de átomos, enquanto a morte é apenas a destruição desse agrupamento. Nos dois casos, cada átomo permanece intactoe imutável. Eles se diferenciam, porém, numa série de aspectos, como tamanho, forma, posição.

2 comentários:

  1. acredito que chegara a epoca de extinguirmos da terra as doenças a velhice a morte e com isso ganharmos condiçoes de ter abilidades que nos trarao sençassoes de vida indestruiveis pois viver com capacidades de poder ver e sentir os que ja se foram nos fara esquecer da morte e assim a consciencia nos fara viver emprou do outro e com isso somarmos abilidades que ao longo do tempo nÓs desenvolvemos fisicamente e com isso morar de baixo da agua e fazer compras voando sem preçisar de carregar bolsas e deixando isso para os avioes sob nosso comando carregar nossas compras poderemos conhecermos realmente a capacidade de cada individuo e assim perdendo de vista a quanto tempo vivemos na terra........

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    1. Se ta usando maconha? Do jeito que as coisas estão indo , você acha que vai existir a Terra daqui uns anos? Não vamos extinguir doenças, mas sim a terra. Viva no mundo real, as escolhas tem que ser feitas agora, não daqui a séculos será tarde demais.

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