“... pois os homens começam e começaram sempre a filosofar movidos pelo espanto (...). Aquele que se coloca uma dificuldade e se espanta reconhece sua própria ignorância. (...) De sorte que, se filosofaram, foi para fugir da ignorância”.
Aristóteles
Conhece-te a ti mesmo
Há 23 séculos, na Grécia Antiga, na cidade dos Delfos, um ateniense vai ao santuário do deus Apolo consultar o oráculo. Muitos diziam que este ateniense era um sábio e ele desejava saber o que significava ser um sábio e se ele poderia ser chamado de sábio. O oráculo, que era uma mulher, perguntou-lhe: “O que você sabe?”. Ele respondeu: “Só sei que nada sei”. Ao que o oráculo disse: “Este é o mais sábio de todos os homens, pois é o único que sabe que não sabe”. Estamos falando de Sócrates, o patrono da filosofia.
Aristóteles
Conhece-te a ti mesmo
Há 23 séculos, na Grécia Antiga, na cidade dos Delfos, um ateniense vai ao santuário do deus Apolo consultar o oráculo. Muitos diziam que este ateniense era um sábio e ele desejava saber o que significava ser um sábio e se ele poderia ser chamado de sábio. O oráculo, que era uma mulher, perguntou-lhe: “O que você sabe?”. Ele respondeu: “Só sei que nada sei”. Ao que o oráculo disse: “Este é o mais sábio de todos os homens, pois é o único que sabe que não sabe”. Estamos falando de Sócrates, o patrono da filosofia.
Sócrates jamais se contentou com as opiniões estabelecidas, com os preconceitos de sua sociedade, com as crenças inquestionadas de seus conterrâneos. Andava pelas ruas de Atenas fazendo aos atenienses algumas perguntas: “O que é isso em que você acredita?”, “O que é isso o que você está dizendo?”, “O que é isso que você está fazendo?”. A pergunta “O que é” era o questionamento sobre a realidade essencial e profunda de uma coisa para além das aparências e contra as aparências. Com essa pergunta, Sócrates levava os atenienses a descobrir a diferença ente parecer e ser, entre mera crença ou opinião e verdade.
O mito da caverna
Platão (427-347 a.C.) foi o mais famoso discípulo de Sócrates. Fundou, em Atenas, uma escola filosófica chamada Academia. O mito da caverna tem o objetivo de ilustrar como a maioria das pessoas vive com um véu sobre seus olhos, o que possibilita apenas uma visão distorcida e incompleta sobre coisas como a verdade e a beleza. Imaginemos uma caverna separada do mundo externo por um alto muro. Entre o muro e o chão da caverna há uma fresta por onde passa um fino feixe de luz exterior, deixando a caverna na obscuridade quase completa. Desde o nascimento, geração após geração, seres humanos encontram-se ali, de costas para a entrada, acorrentados sem poder mover a cabeça nem locomover-se, forçados a olhar apenas a parede do fundo, vivendo sem nunca ter visto o mundo exterior nem a luz do Sol, sem jamais ter efetivamente visto uns aos outros nem a si mesmos, mas apenas sombras dos outros e de si mesmos porque estão no escuro e imobilizados. Abaixo do muro, do lado de dentro da caverna, há um fogo que ilumina vagamente o interior sombrio e faz com que as coisas que se passam do lado de fora sejam projetadas como sombras nas paredes o fundo da caverna. Os prisioneiros tomam essas sombras por realidade.
Um dos prisioneiros fabrica um instrumento com o qual quebra os grilhões e sai da caverna. Seu primeiro impulso é o de retornar para livrar-se da dor e do espanto, atraído pela escuridão, que lhe parece mais acolhedora. Além disso, precisa aprender a ver e esse aprendizado é doloroso, fazendo-o desejar a caverna onde tudo lhe é familiar e conhecido. Finalmente, acostuma-se com a luz e começa a ver o mundo. Com pena dos demais prisioneiros, resolve voltar ao subterrâneo sombrio para contar-lhes o que viu e convence-los a se libertarem também. No entanto, no retorno, os demais prisioneiros não acreditam em suas palavras e, se não conseguem silenciá-lo com suas caçoadas, tentam fazê-lo espancando-o. Se mesmo assim ele teima em afirmar o que viu e os convida a sair da caverna, certamente acabam por matá-lo. Mas, quem sabe, alguns podem ouvi-lo e, contra a vontade dos demais, também decidir sair da caverna rumo à realidade.
O que é a caverna? O mundo das aparências em que vivemos. Que são as sombras projetadas no fundo? As coisas que percebemos. Que são os grilhões e as correntes? Nossos preconceitos e opiniões, nossa crença de que o que estamos percebendo é a realidade. Quem é o prisioneiro que se liberta e sai da caverna? O filósofo. O que é a luz do Sol? A luz da verdade. O que é o mundo iluminado pelo sol da verdade? A realidade. Qual o instrumento que liberta o prisioneiro rebelde e com o qual ele deseja libertar os outros prisioneiros? A Filosofia.
As crenças silenciosas (o senso comum)
Uma simples pergunta como “Que horas são?” ou “Que dia é hoje?” contem, silenciosamente, várias crenças. Estas crenças silenciosas podem ser entendidas como coisa ou idéias em que acreditamos sem questionar, que aceitamos por que são óbvias e evidentes.
O mito da caverna
Platão (427-347 a.C.) foi o mais famoso discípulo de Sócrates. Fundou, em Atenas, uma escola filosófica chamada Academia. O mito da caverna tem o objetivo de ilustrar como a maioria das pessoas vive com um véu sobre seus olhos, o que possibilita apenas uma visão distorcida e incompleta sobre coisas como a verdade e a beleza. Imaginemos uma caverna separada do mundo externo por um alto muro. Entre o muro e o chão da caverna há uma fresta por onde passa um fino feixe de luz exterior, deixando a caverna na obscuridade quase completa. Desde o nascimento, geração após geração, seres humanos encontram-se ali, de costas para a entrada, acorrentados sem poder mover a cabeça nem locomover-se, forçados a olhar apenas a parede do fundo, vivendo sem nunca ter visto o mundo exterior nem a luz do Sol, sem jamais ter efetivamente visto uns aos outros nem a si mesmos, mas apenas sombras dos outros e de si mesmos porque estão no escuro e imobilizados. Abaixo do muro, do lado de dentro da caverna, há um fogo que ilumina vagamente o interior sombrio e faz com que as coisas que se passam do lado de fora sejam projetadas como sombras nas paredes o fundo da caverna. Os prisioneiros tomam essas sombras por realidade.
Um dos prisioneiros fabrica um instrumento com o qual quebra os grilhões e sai da caverna. Seu primeiro impulso é o de retornar para livrar-se da dor e do espanto, atraído pela escuridão, que lhe parece mais acolhedora. Além disso, precisa aprender a ver e esse aprendizado é doloroso, fazendo-o desejar a caverna onde tudo lhe é familiar e conhecido. Finalmente, acostuma-se com a luz e começa a ver o mundo. Com pena dos demais prisioneiros, resolve voltar ao subterrâneo sombrio para contar-lhes o que viu e convence-los a se libertarem também. No entanto, no retorno, os demais prisioneiros não acreditam em suas palavras e, se não conseguem silenciá-lo com suas caçoadas, tentam fazê-lo espancando-o. Se mesmo assim ele teima em afirmar o que viu e os convida a sair da caverna, certamente acabam por matá-lo. Mas, quem sabe, alguns podem ouvi-lo e, contra a vontade dos demais, também decidir sair da caverna rumo à realidade.
O que é a caverna? O mundo das aparências em que vivemos. Que são as sombras projetadas no fundo? As coisas que percebemos. Que são os grilhões e as correntes? Nossos preconceitos e opiniões, nossa crença de que o que estamos percebendo é a realidade. Quem é o prisioneiro que se liberta e sai da caverna? O filósofo. O que é a luz do Sol? A luz da verdade. O que é o mundo iluminado pelo sol da verdade? A realidade. Qual o instrumento que liberta o prisioneiro rebelde e com o qual ele deseja libertar os outros prisioneiros? A Filosofia.
As crenças silenciosas (o senso comum)
Uma simples pergunta como “Que horas são?” ou “Que dia é hoje?” contem, silenciosamente, várias crenças. Estas crenças silenciosas podem ser entendidas como coisa ou idéias em que acreditamos sem questionar, que aceitamos por que são óbvias e evidentes.
--> Quando perguntamos “Que horas são?” ou “Que dia é hoje?” acreditamos que o tempo existe. Que ele passa e que pode ser medido em horas e dias. Que o passado é diferente do presente e que ainda há um futuro por vir. Que o passado pode ser lembrado ou esquecido e o futuro, desejado ou temido.
--> Quando dizemos “Ele está sonhando”: Acredito que sonhar é diferente de estar acordado, que, no sonho, o impossível é provável, e também que o sonho se relaciona com o irreal, enquanto a vigília se relaciona com o que existe realmente. Acredito, portanto, que a realidade existe fora de mim, que posso percebê-la e conhece-la tal como é, e por isso creio que sei diferenciar realidade de ilusão.
--> A frase “Ela ficou maluca” contém a crença de que sabemos diferenciar entre sanidade mental e loucura. Que a sanidade mental se chama razão e que maluca é a pessoa que perde a razão e inventa uma realidade existente só pra ela. Acredito também que a razão se refere a uma realidade que é a mesma para todos, ainda que não gostemos das mesmas coisas.
--> “Onde há fumaça, há fogo” ou “Não saia na chuva para não se resfriar”: acredita-se que existem relações de causa e efeito entre as coisas. Acreditamos, assim, que a realidade é feita de causalidades, que as coisas, os fatos, as situações se encadeiam em relações de causa e efeito que podem ser conhecidas por nós e, até mesmo, ser controladas por nós para o uso de nossa vida.
--> Acreditamos também que as pessoas, por que possuem vontade, podem ser morais ou imorais, pois cremos que a vontade é o poder para escolher entre o bem e o mal. E, sobretudo, acreditamos que exercer tal poder é exercer a liberdade, pois acreditamos que somos livres porque escolhemos voluntariamente nossas ações, nossas idéias, nossos sentimentos.
Objetividade X subjetividade
Objetividade: atitude imparcial que percebe e compreende as coisas tais como são verdadeiramente;
Subjetividade: atitude parcial, pessoal, ditada por sentimentos variados (amor, ódio, medo, desejo);
O debate em torno das noções de objetividade e subjetividade também representa a existência de crenças silenciosas. Não só acreditamos que a objetividade e a subjetividade existem, como ainda acreditamos que são diferentes, sendo que a primeira percebe perfeitamente a realidade e não a deforma, enquanto a segunda não percebe adequadamente a realidade e, voluntária ou involuntariamente, a deforma.
Também achamos óbvio que todos os seres humanos seguem regras e normas de conduta, possuem valores morais, religiosos, políticos, artísticos, vivem na companhia de seus semelhantes e procuram distanciar-se dos diferentes, dos quais discordam e com os quais entram em conflito. Isso significa que acreditamos que somos seres sociais, morais e racionais, pois regras, normas, valores e finalidades só podem ser estabelecidos por seres conscientes e dotados de raciocínio.
Nossa vida cotidiana é toda feita de crenças silenciosas, da aceitação de coisas e idéias que nunca questionamos porque nos parecem naturais e óbvias.
Buscando a saída da caverna ou a atitude filosófica
Atitude filosófica: indagar
Tomar distância da vida cotidiana e de si mesmo, desejando conhecer por que cremos, por que sentimos o que sentimos e o que são nossas crenças e nossos sentimentos.
Esta mudança de atitude está exprimindo o desejo de saber. E é exatamente isso que, em sua origem, a palavra filosofia significa. Em grego, philosophía quer dizer “amor à sabedoria”.
Assim, uma primeira resposta à pergunta “O que é filosofia?” poderia ser: “A decisão de não aceitar como naturais, óbvias e evidentes as coisas, as idéias, os fatos, as situações, os valores, os comportamentos de nossa existência cotidiana; jamais aceitá-los sem antes havê-los investigado e compreendido”.
--> Quando dizemos “Ele está sonhando”: Acredito que sonhar é diferente de estar acordado, que, no sonho, o impossível é provável, e também que o sonho se relaciona com o irreal, enquanto a vigília se relaciona com o que existe realmente. Acredito, portanto, que a realidade existe fora de mim, que posso percebê-la e conhece-la tal como é, e por isso creio que sei diferenciar realidade de ilusão.
--> A frase “Ela ficou maluca” contém a crença de que sabemos diferenciar entre sanidade mental e loucura. Que a sanidade mental se chama razão e que maluca é a pessoa que perde a razão e inventa uma realidade existente só pra ela. Acredito também que a razão se refere a uma realidade que é a mesma para todos, ainda que não gostemos das mesmas coisas.
--> “Onde há fumaça, há fogo” ou “Não saia na chuva para não se resfriar”: acredita-se que existem relações de causa e efeito entre as coisas. Acreditamos, assim, que a realidade é feita de causalidades, que as coisas, os fatos, as situações se encadeiam em relações de causa e efeito que podem ser conhecidas por nós e, até mesmo, ser controladas por nós para o uso de nossa vida.
--> Acreditamos também que as pessoas, por que possuem vontade, podem ser morais ou imorais, pois cremos que a vontade é o poder para escolher entre o bem e o mal. E, sobretudo, acreditamos que exercer tal poder é exercer a liberdade, pois acreditamos que somos livres porque escolhemos voluntariamente nossas ações, nossas idéias, nossos sentimentos.
Objetividade X subjetividade
Objetividade: atitude imparcial que percebe e compreende as coisas tais como são verdadeiramente;
Subjetividade: atitude parcial, pessoal, ditada por sentimentos variados (amor, ódio, medo, desejo);
O debate em torno das noções de objetividade e subjetividade também representa a existência de crenças silenciosas. Não só acreditamos que a objetividade e a subjetividade existem, como ainda acreditamos que são diferentes, sendo que a primeira percebe perfeitamente a realidade e não a deforma, enquanto a segunda não percebe adequadamente a realidade e, voluntária ou involuntariamente, a deforma.
Também achamos óbvio que todos os seres humanos seguem regras e normas de conduta, possuem valores morais, religiosos, políticos, artísticos, vivem na companhia de seus semelhantes e procuram distanciar-se dos diferentes, dos quais discordam e com os quais entram em conflito. Isso significa que acreditamos que somos seres sociais, morais e racionais, pois regras, normas, valores e finalidades só podem ser estabelecidos por seres conscientes e dotados de raciocínio.
Nossa vida cotidiana é toda feita de crenças silenciosas, da aceitação de coisas e idéias que nunca questionamos porque nos parecem naturais e óbvias.
Buscando a saída da caverna ou a atitude filosófica
Atitude filosófica: indagar
Tomar distância da vida cotidiana e de si mesmo, desejando conhecer por que cremos, por que sentimos o que sentimos e o que são nossas crenças e nossos sentimentos.
Esta mudança de atitude está exprimindo o desejo de saber. E é exatamente isso que, em sua origem, a palavra filosofia significa. Em grego, philosophía quer dizer “amor à sabedoria”.
Assim, uma primeira resposta à pergunta “O que é filosofia?” poderia ser: “A decisão de não aceitar como naturais, óbvias e evidentes as coisas, as idéias, os fatos, as situações, os valores, os comportamentos de nossa existência cotidiana; jamais aceitá-los sem antes havê-los investigado e compreendido”.
--> Perguntar o que é (uma coisa, um valor, uma idéia, um comportamento): Ou seja, a Filosofia pergunta qual é a realidade e qual é a significação de algo, não importa o quê; (essência).
--> Perguntar como é: A Filosofia indaga como é a estrutura ou o sistema de relações que constitui a realidade de algo; (significação ou estrutura).
--> Perguntar por que é, Por que algo existe? Qual é a origem ou a causa de uma coisa, de uma idéia, de um valor, de um comportamento; (finalidade).
É um saber sobre a realidade exterior ao pensamento.
A reflexão filosófica
A reflexão filosófica, ou o “Nosce te ipsum” (“Conhece-te a ti mesmo”) indaga “Por quê?”, “O quê?”, “Para quê”? e se dirige ao pensamento, à linguagem e à ação, ou seja, volta-se para os seres humanos. São perguntas sobre a capacidade e a finalidade para conhecer, falar e agir, próprias dos seres humanos.
É um saber sobre a realidade exterior ao pensamento.
A reflexão filosófica
A reflexão filosófica, ou o “Nosce te ipsum” (“Conhece-te a ti mesmo”) indaga “Por quê?”, “O quê?”, “Para quê”? e se dirige ao pensamento, à linguagem e à ação, ou seja, volta-se para os seres humanos. São perguntas sobre a capacidade e a finalidade para conhecer, falar e agir, próprias dos seres humanos.
É um saber sobre o homem como ser pensante, falante e agente, ou seja, sobre a realidade interior dos seres humanos.
Referências:
CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. 4 ed., Ática, 1995.
Muito interessante esses tópicos, com toda certeza vão me ajudar em minhas pesquisas!
ResponderExcluirParabéns! , aliás, por que falamos parabéns? rs
Bom o blog!!
ResponderExcluir... A propósito, meu juízo de valor não parte de um senso comum, tampouco é uma retórica...
São então meus olhos filosofantes aprovando o pouso em suas postagens!
Abraço!
toma no cu
ResponderExcluirnossa me ajudou de mais rsrs...
ResponderExcluirnao ajudou pochaseu abestado
ResponderExcluirporrra
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